NUNCA ACREDITEI
Sempre soube que terminaria assim, embora
repetidamente tenhas afirmado que pessoas mudam, hipócrita mentira que
usaste como um camaleão se camuflando
entre as variantes nuances de cores da vida,
eu sempre soube quem tu eras por dentro, mesmo assim não deixei de
sentir a mágoa e a decepção, acho que no fundo dessa minha alma sulcada pensava
que talvez pudesse ser especial para ti, nem sei por quê, se tenho inquietudes
e sentimentos tão sorrateiros que nunca sei se são reais ou não, conservo
fechadas as portas, qualquer descuido pode ser fatal e o perigo é sempre
iminente, chove, troveja, aqui dentro de mim e lá fora também, conservei minha
face um tanto bela, o mesmo não posso dizer de meu íntimo, esse está destroçado
há tempos, aliás, acho que já nasceu assim,a pouca fé nas palavras das pessoas
mais uma vez me provou verdadeira a
assertiva de que falam por falar, mas que no fundo, são só palavras
inócuas, em vão, me assombra a facilidade com que anunciam o amor, falácia
romântica e fingida, nem sabem o significado e a sua representação na vida do
outro, mas convém pronunciá-la, nada melhor que fingir pra si mesmo, faz parte
dessa anarquia institucionalizada por essa sociedade falida, danem-se todos,
nem sei por que ainda penso nesses disparates que delineiam esse idiota gênero
dito humano,até os irracionais entendem melhor o significado do amor, não digo
que eu o saiba, estou longe de todas as certezas, não vejo sentido em viver
numa organização social que parece um espetáculo circense em que as marionetes
são movidas pelo o que se espera delas e não pelo que elas desejam, sou mais um
jogral nesse mundo humano desumano, mais uma pedra do alicerce que rui a todo
momento e ninguém percebe porque os contornos que o delineiam são tão sutis que
se tornam imperceptíveis aos que estão nessa engrenagem conformadora, me
embrulha por dentro ruminar os feitos do homem, todos buscam melhorar o
interior e hipocritamente o dizem, os atos avaros são mais fortes e as palavras
ficam no vácuo, num espaço ridículo entre o dizer e o fazer, não ligo para as frivolidades,
eu sou frívola e meu entorno também o é, não espero humanidade da humanidade, o
enunciado é sempre cheio de ambiguidades, dou ao mundo o meu próprio sentido:
não ter sentido, comecei falando que eu já sabia o que ia acontecer, não sou
vidente, sou descrente da decência humana, somos peças descartáveis, quando não
servimos mais somos jogados no vão de todas as coisas desprovidas de sentido,
nem mesmo a amizade consegue suportar essa efemeridade que é a vida em
sociedade, um ermitão talvez seja menos solitário, se não o é também não está
perdendo nada, eu sofro a cada segundo ao ver a sovinice fazer cada vez mais
parte do gênero humano, mesquinhez de humanidade fique claro, eu primeiro o
resto que se arrebente, me vejo no espelho e não vejo nada, deixei de existir,
apenas uma nódoa reflete um pouquinho do resto que ainda me sobra como ser
humano, fui corrompida, destruída, apenas o físico ainda me faz parte da raça
humana, perdi em cada fracasso um pouco da minha essência e foram muitos os
abortos que me tornaram insensível, mas mesmo assim me surpreendeste ao sentir
a mágoa soube que ainda restara alguma coisa de humano em mim, garanto que por
pouco tempo, nunca acreditei em tuas vãs palavras e infelizmente eu estava
certa, gostaria de estar errada e poder rever tudo o que acho da espécie
humana, ainda tentaste me iludir, mentindo sobre situações que visivelmente eu
sabia não serem exatamente daquela forma, mas deixei que tua tentativa
prosseguisse, queria ver até onde a hipocrisia iria te levar e assisti a tudo
sorrindo, rindo da tacanhez das pessoas e do quanto são incapazes de serem
verdadeiras, seguiu toda uma situação que
parecia satisfazer à falta de realidade, eu chorei por mim,
pela falta de sinceridade e de amizade, a hipocrisia e a podridão
colocaram um ponto final a qualquer ínfima possibilidade de ainda crer nas
pessoas. Cerro mais esta etapa, não carrego mais mágoas, eu já sabia que ao
final de todas as coisas humanas somente a sordidez permaneceria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário